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O sol é para todos - Harper Lee

Um romance maravilhoso amplamente adorado pelos leitores, O sol é para todos revela sutilmente a triste realidade nas sombras da pacata cidade de Maycomb aos olhos da pequena Scout, filha do advogado Atticus Finch, responsável pela defesa de um homem negro injustamente acusado por uma mulher branca.


No árido terreno sulista norte-americano da Grande Depressão do início dos anos 1930, Scout (Jean Louise Finch) e o irmão Jem (Jeremy Atticus Finch) se metem em aventuras como quaisquer outras crianças, mas logo testemunham o duro mundo dos adultos e os sentimentos que cercam a cidade: preconceito racial e social enraizados, conformismo diante das injustiças e malícia que escorre das palavras nas situações mais banais. Os eventos dos quase três anos em que dura o livro, tal como se é esperado de um romance de formação (em alemão, bildungsroman), mudam para sempre aquelas crianças e, cada um à seu modo, vão fazer descobertas, questionar o mundo e, inevitavelmente, crescer. 

Dentre tantas outros encontros, os dois irmãos e seu pequeno amigo de férias, Dill (Charles Baker Harris), vão vislumbrar o mistério de Arthur (Boo) Radley, um homem-fantasma que nunca sai de casa. Aquela assombração monstruosa vai aos poucos se tornando humana à medida que um ou outro fato é mencionado pela Sra. Maudie e, especialmente, após presenciarem alguns gestos singelos e significativos, de tocar o coração, como quando presentes inesperados aparecem na árvore do quintal ou ainda quando um manto te cobre em um dia frio.

Naquele mesmo ano, Scout e Jem viram o objeto de escárnio do colegas de classe, dos vizinhos e até de membros da família por causa do trabalho do pai: Atticus Finch foi encarregado de defender Tom Robinson, um homem negro honesto acusado de estuprar a jovem branca Mayella Ewell, e está decidido a fazer justiça. "A consciência de um indivíduo não deve subordinar-se a lei da maioria", diz. Menina-moleque que não gosta de levar desaforo para casa, a esperta e sensível Scout, narradora da trama, vai aprender com o pai nesse momentos difíceis a importância da gentileza e de nunca desistir. Acontece que nunca antes um negro ganhou um caso contra um branco, sem falar que os Ewells são uma família paupérrima com suas próprias circunstâncias e o vingativo Bob Ewell não deve ser subestimado.

Os episódios vividos ao lado de personagens cativantes, como Calpúrnia, Boo Radley e até mesmo Dolphus Raymond, vão ensinar belas lições de empatia, tolerância e respeito ao próximo, como pequenos raios de luzes, pálidos mas brilhantes na escuridão. Suas próprias experiências e os ensinamentos do pai viúvo vão oferecer um caminho que preza pela vida, compaixão e perdão, especulando sempre sobre o que há de bom nos homens e o motivo de suas ações ao colocar-se nos seus lugares.

"O rouxinol não faz nada além de cantar para o nosso deleite. Não destrói jardins, não faz ninho nos milharais, ele só canta. Por isso é um pecado matar um rouxinol." (p. 118)

Em O sol é para todos, no original To kill a mockinbird (trad. literal: Para matar um pássaro-das-cem-línguas), o rouxinol simboliza beleza e inocência, daí que sua morte é nada mais que crueldade e covardia, tal como tirar vantagem do mais fraco. Personagens como Tom Robinson e Boo Radley podem ser associados à imagem desse pássaro, a medida que sua inocência e liberdade lhe são tiradas e acabam feridos pela maldade humana. São temas fundamentais desse livro a discussão do bem e o mal, dignidade humana, justiça, ética e moral, preconceito, coragem, papéis de gênero e juventude.

Personagens
Biografia e Contexto

Nelle Harper Lee nasceu em 28 de abril de 1926, em Monroeville, Alabama, uma pequena e pacata cidade semelhante em muitos aspectos à Maycomb, o cenário de O Sol é para todos. Eis que a fictícia Maycomb é uma típica cidade sulista nos anos 30: velha, pobre, indolente e racista. Assim como Atticus Finch, o pai de Lee também era um advogado. Sem falar que entre os amigos de infância de Lee estava o futuro escritor e ensaísta Truman Capote, em quem ela se inspirou para o personagem Dill. Apesar disso, a autora afirma que não teve a intenção de fazer um retrato biográfico de sua terra natal, mas sim de uma cidade do sul não específica: "Pessoas são pessoas em qualquer lugar onde você as coloque", declarou em uma entrevista em 1961.

Fatos reais: Em 1931, quando Harper Lee tinha 9 anos, nove adolescentes negros foram acusados de estupro por duas meninas brancas. Os julgamentos foram chamados de The Scottsboro Trials e viraram manchetes nacionais, intensificando drasticamente o debate sobre raça e racismo na América. Depois de seis anos de julgamentos, em que os meninos foram mantidos na cadeia, e apesar de uma das meninas ter mudado seu depoimento e alegado que nenhuma violação tinha realmente ocorrido, cinco dos nove foram condenados por estupro.

Cenário: A cidade ficcional de Maycomb (baseada em Monroeville) no Alabama, Estados Unidos.

Lee começou O sol é para todos em meados da década de 1950, depois de se mudar para Nova York para se tornar uma escritora. O romance foi terminado em 1957 e publicado, com revisões, em 1960, pouco antes do auge do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos. Depois disso, Lee nunca publicou outro romance, saindo do centro das atenções para voltar a Monroeville.

Em 1993, Lee escreve um breve prefácio para seu livro pedindo que futuras edições sejam poupadas de introduções críticas. Diz que sua obra "ainda diz o que tem a dizer; Ele conseguiu sobreviver aos anos sem preâmbulo". O sol é para todos continua aparecendo em listas de leitura do ensino médio e da faculdade, amado por milhões de leitores em todo o mundo por sua representação atraente da inocência da infância, sua condenação moral mordaz do preconceito racial e sua afirmação de que a bondade humana pode resistir ao assalto do mal.

Além de ser um best-seller mundial, o livro recebeu muitos prêmios desde sua publicação, em 1960, entre eles, o Pulitzer. Traduzido em 40 idiomas, vendeu mais de 30 milhões de exemplares em todo o mundo e, em 1962, foi adaptado para os cinemas com Gregory Peck – ganhador do Oscar por sua interpretação de Atticus Finch – Brock Peters, Robert Duvall e outros. O Librarian Journal dos EUA elegeu-o como o melhor romance do século XX. E mais: em 2006, uma pesquisa na Inglaterra colocou O sol é para todos no primeiro lugar da lista de livros mais importantes, seguido da Bíblia e de O senhor dos anéis, de J. R. R. Tokien. Também entrou para a lista da Time Magazine dos Cem Melhores Romances de Todos os Tempos.

Filme O Sol é para todos (1962)

Resumo do livro e as 4 lições ensinadas: se colocar no lugar dos outros, não matar um rouxinol, continuar lutando mesmo na iminência da derrota e injustiça existe. Mais informações em LitCharts, SparkNotes, Shmoop (ENG).

By Geisy N.
Título: O sol é para todos
Autor: Harper Lee
Ler Online: Lelivros

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